terça-feira, 25 de agosto de 2009

Encontrei uma coisa antiga

“Nenhum homem pode ser responsabilizado pelo seu azar, apenas pela forma como lida com ele. Desse acto mecanicista emergem memorias de uma vida cheia de momentos que parece não terem existido, por nada ou pouco mais que palavras terem acontecido. para alem do ser transferível e exterior, vivo numa dimensão invisível, habitada por um ser interior, que carrega de emoção pequenos instantes, que acabam por ditar o que sou”.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Depois o Partido Chumbou

E eu demiti-me da minha função na Campanha.

O acordado com o Candidato era que eu não participaria em acções partidárias, nem escreveria discursos doutrinários, de uma ideologia anacrónica e atávica.

A princípio o candidato concordou.
Mas depois achou que a estratégia desenvolvida por mim não se adequava ao Partido.

Respondi que não estava interessado nem sabia doutrinar pessoas numa ideologia na qual não acredito.

Demiti-me antes que me afastassem.

E depois estranham que os resultados sejam sempre os mesmos, quando mantém os métodos e os discursos de um tempo que já lá vai à mais de 20 anos.

Primeiro, escrevi isto

Manifesto de Candidatura à Junta de Freguesia dos Anjos

Todos nós somos a democracia. A nossa voz não pode ser abafada pelos interesses de certos grupos económicos e de pressão.
Esta é a minha primeira campanha: vou até vós sem os vícios políticos daqueles que servem os interesses instalados.

Sou um cidadão que tem as vossas necessidades e que as sente na pele. Habito na mesma freguesia que vocês; os meus filhos frequentam as mesmas escolas que os vossos; compro nas mesmas lojas que vocês; conheço as mesmas pessoas.
Como cidadão acredito que as ideias não morreram, que é possível discutir diferenças sem impedir consensos, que é essencial motivar as pessoas a enfrentar e superar os desafios do nosso bairro. Há escolhas essenciais a ser feitas. Acredito que é possível mudar.

Essas escolhas devem ser tomadas com o auxílio e a palavra de todos.
Porque acredito nisso, quero convidá-lo a juntar a sua voz à minha.
Vá a www.mmmmmmm.pt ou preencha o nosso inquérito, indicando quais são, para si, os principais problemas do nosso bairro.

A sua opinião é importante, para que todos juntos possamos apurar quais os verdadeiros problemas. Só conhecendo-os é possível encontrar soluções eficazes, que melhorem efectivamente a vida de todos.

Em tempos houve o sonho da política estar ao serviço das pessoas.
Todos juntos, podemos recuperar esse sonho. Ajude-me a ajudá-lo!

Casa Nova








sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Conversa de Café

- Pois, disse eu.
- É inteligente, respondeu-me a minha amiga.
- Nós aproximámo-nos muito em muito pouco tempo. E o tipo de intimidade que comecei a criar com ELA está para lá da simples amiga. Quando percebi que ela não tinha o mesmo entendimento, resolvi afastar-me. Proteger-me a mim antes de me envolver e apaixonar. Protege-la a ela, que tem as suas próprias circunstâncias. E proteger a amizade antes que algum desentendimento ou incompatibilidade a comprometa."

Hoje, a minha amiga, enviou-me a Mensagem do Dia.

Frase do Dia

Saber afastar-se e aproximar-se é a chave de qualquer relação que dure.


Doménico Cieri

Sir Ken Robinson - The Element

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Conversa de Café

A J. não está bem. Percebo pela conversa dela.
Acabámos a falar de intimidade e da forma como lidamos com ela.
Obviamente que a forma como hoje lido com esta é muito diferente da forma como lidava à cinco ou seis anos atrás.

Hoje em dia, a intimidade que tenho para partilhar é muito menor do que era. É um reflexo da idade. Hoje em dia sempre que estabeleço intimidade com uma mulher que me atraia física e intelectualmente, pretendo que a mesma evolua para lá de uma simples amizade e se isso não acontecer, essa intimidade vai-se. As relações, disse-lhe eu, dependem da reciprocidade o que significa objectivos e intenções comuns. Não havendo isso, não há reciprocidade, e sem isso, a relação não tem para onde evoluir. E intimidade restrita à amizade, é algo que demora muito tempo a atingir, muito mais hoje em dia, que tenho menos tempo, disponibilidade e insegurança, para estar a aceitar algo que não me satisfaz.

Perguntei-lhe se sabia o que queria. Disse-me que sim. E que ele não queria o mesmo.

Assim sendo, se ela estava numa situação dessas, com alguém que foge por medo de se envolver ou por incapacidade de fazer escolhas e aceitar as consequências, dizendo-lhe que só quer ser amigo dela, ela não tinha outra solução senão afastar-se.
Proteger-se a ela, esclarecer ilusões que ele tenha quanto à natureza da relação, salvar a amizade, caso quisesse isso e não abdicar daquilo que quer, por aquilo que pode ter.

Eu pelo menos, hoje em dia, privilegio a intimidade acima de tudo, mas quando me vejo numa relação com alguém que não a interpreta no mesmo sentido que eu, afasto-me, antes de me envolver de uma forma irreversível.

Até porque, quando alguém não a interpreta da mesma maneira que eu, acabo por perder a vontade em promover uma intimidade, que para a qual, deixou de haver sentido.
A amizade é uma coisa fantástica.
Mas o que hoje dou a alguém que é um amigo recente, alguém que é simples e somente um amigo, é consideravelmente menos do que aquilo que estou disposto a dar a alguém pela qual me apaixone. De momento não estou. Mas já estive e sei como é.

Terminei a dizer-lhe que no imediato, não via futuro para aquela relação.

A minha última criação

"The Angry Mob", by Kaiser Chiefs

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Russia Got Talent



Palavras para quê.
São russos.

We Happy Few

Soluções e identidades

Cresci a ouvir dizer que uma pessoa devia escolher aquilo que queria ser ou adaptar-se àquilo que lhe era exigido que fosse, comportando-se de acordo com esse padrão. Confesso que sempre tive alguma dificuldade em escolher o que queria ser, porque sempre me senti atraído pela curiosidade natural de explorar tudo o que há para ser. Reconheço que se a identidade está naquilo que se mantém constante e que o instinto nos impele a sermos coerentes com a nossa história, então terei de aceitar que este, é o traço de carácter mais marcado que possuo.

Nunca tive dúvidas em compreender a razão de ser dos rótulos. É uma necessidade biológica que se transforma numa vantagem operativa. Mas para mim, a identidade, não é imutável. Quando estudei filosofia, uma dos problemas mais debatidas, era o do barco. Havia um barco que saía de um porto para uma longa viagem. Cada vez que parava, trocava uma parte do barco. Quando regressou ao porto de origem já tinha trocado todas as partes que inicialmente o compunham. A questão que se punha era se o barco ainda era o mesmo, ou seja, se a identidade é um conceito, ou uma associação material. A minha resposta sempre foi que mesmo sendo conceptualmente uma única e mesma ideia, cada nova peça era uma nova experiência, pelo que mesmo nesse sentido, a identidade do barco era mutável. Pelo que a identidade, não podia ser apenas definida por aquilo que se mantinha constante. Caso contrario, a identidade seria algo demasiado geral, o que a impediria de funcionar como elementos diferenciador. A identidade está em constante construção, porque a cada momento que passa, acrescentamos algo à percepção que temos de nós próprios.

Até hoje, não mudei essa ideia. Não estou com isto a dizer que nunca precisei de estabilidade ou rotina, porque precisei, como continuo a precisar. Só que a minha rotina sempre foi vivida em contínuo, sem atribuir sentido definitivo ao que quer que fosse, como se para mim, tudo fosse temporário. Deste misto de necessidade, vontade e desejo, retirei a motivação para empreender as acções e tomar as decisões, que me levassem a sentir o que queria sentir. Pessoalmente, acabei sempre decidindo com o lado emocional. Não num sentido impulsivo ou imediato, adjectivos que, de resto, não são usados pelos outros, como definição para mim. Mas sempre que sigo uma linha puramente racional, atinjo um ponto em que as razões, acabam anulando-se umas às outras. A única forma de decidir, é usar a emoção. Com isso encontrei o fascínio de gostar, por simplesmente preferir, como se na origem do que sou, estivesse o que sinto. É evidente que os outros não podem ver o que sentimos, apenas o que fazemos para os expressar.

Talvez isto justifique de um modo simplista, a razão pela qual acho importante estar preparado para a mudança. Para mim isso traduz-se em privilegiar a irracionalidade de um gosto, que não está refém de razões conscientes, para se sujeitar à lógica sequencial dos actos. O difícil para mim nunca foi implementar soluções. O difícil sempre foi decidir qual dos estímulos privilegiar.

Tive uma ideia

Muito estúpida ou muito brilhante.
A ver vamos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Há coisas tão espantosas que basta apontar a câmara



Lindo. Maravilhoso. Deslumbrante.
O movimento, lento, contínuo, orgânico.
A deslizar, a voar, a flutuar.
E a música...

"Please don't go - Barcelona".

terça-feira, 11 de agosto de 2009

É verdade

Acabei o draft do livro.
Este é um dia histórico.

Conversa de Ontem à Noite

- E como é que vocês estão?
- Acho que atingimos aquele ponto em que se torna necessário ter uma conversa.
- E?
- E acho que ela não está preparada.
- Não está preparada?
- Não. Acho que se o fizer, ela vai fugir.
- E não é preferível isso a viver na ansiedade?
- Não. Não desta vez. Desta vez não estou disposto a perdê-la.
- Porquê?
- Porque nunca encontrei ninguém com que me fizesse sentir o que ela faz sentir. Com ela tenho descoberto que partilho sentimentos, gostos, ideias, palavras, silêncios e risos. Compreendo-a como compreendi pouca gente até hoje. E adoro o corpo dela. Tanto quanto a ideia de partilhar uma vida com ela. É como se fossemos dois espectadores cúmplices a assistir ao mesmo filme.
- Bem homem, estás mesmo acordado! Mas afinal o que e que se passa entre vocês?
- Até ver nada e ao mesmo tempo muito. Gostamos um do outro, isso é certo. Mas ela tem namorado. Eu tenho mais para dar e quero dá-lo. Mas não sei se é isso que ela quer e na dúvida, prefiro capacitar-me que não, que neste momento ela precisa é de espaço. Ou de tempo. Ou de que quer que seja.
- O que é que vais fazer?
- Afastar-me um pouco, acho. Para me proteger. E para lhe dar espaço. Também não me quero expor mais do que já me expus. E gosto dela como pessoa, portanto há sempre qualquer coisa a perder.
- E o que é que achas que ela vai fazer?
- Não sei. Suponho que nada. Enquanto lhe der a amizade, para ela está tudo bem, acho eu.
- Ela também não deve saber o que quer.
- Suponho que não. Nem eu sei o que devo fazer.
- Acho que vocês estão os dois com medo de perder o que têm.
- Sim. Só que eu tenho medo de o perder, porque quero mais; e não sei se ela sente o medo de perder, porque não quer mais.
- Então o que é que vais fazer?
- Nada. Que posso eu fazer? Não a posso forçar à resposta ou à conversa, porque tenho medo que ela fuja. Não posso continuar a deixar-me dominar pela ansiedade, porque assim ninguém consegue viver. Mas também não quero afastar-me ou desisti, porque nada me garante que isso não me leve lá.
- Acho que estás a fazer um bicho de sete cabeças.
- Se calhar.
- Vais ver que ela pensa o mesmo e está mais preparada para falar do que tu pensas.
- Sim, talvez. Mas como é que eu vou saber isso?
- Arriscando.
- Não sei. Não desta vez.
- Houve, tu vais ter que falar. Somos adultos. As coisas têm de ser esclarecidas.
- Sim, eu sei. Mas ela é uma garota.
- Isso quer dizer que por ser uma garota tu tens de te comportar como tal?
- Não. Quer dizer que por sê-lo, outros critérios têm de se usados.

Lá fora estão 37º

Daí que quando me convidaram a ir filmar isto, nem hesitei.


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

ELA é uma daquelas raras pessoas

ELA é uma daquelas raras pessoas pelas quais sinto interesse como pessoa, atracção como mulher e carinho como amigo.

Infelizmente as incidências do tempo nem sempre privilegiam o encontro, ou pelo menos não o fazem, sem circunstâncias atenuantes para sentimentos simples, envolvidos em decisões complexas. E o que podia ser arrasta-se perdido entre a tirania do que permanece.

Passamos os dias a imaginar onde queríamos estar, comprando guerras inesperadas, como quem perde a compostura, sem perceber que o que conta é viver o que se dá, no retorno do que recebemos.

Quantas vezes não me senti de mãos vazias, sem mais nada de significante, que não as ilusões de um sonho, só por não ter coragem de aceitar a resposta, que se repete incessantemente, qualquer que seja a pergunta feita.

Gostava de ver o mundo, ter certezas certas das consequências das minhas escolhas, sem erros nem enganos, dúvidas ou tristezas.

Deixei de o desejar, quando descobri na imprevisibilidade a possibilidade de dar corpo às ilusões que me fizeram sonhar.

Quando uma pessoa precisa de tempo e espaço, só pudemos deixá-las atingir as suas conclusões.
Outra coisa não se pode fazer, quando se atinge aquele ponto em que não há nada mais que se possa dizer ou fazer que não vá estragar o que bem que foi feito.

Está confusa. Não sabe o que quer. Não gosta das respostas às quais está a chegar. Tem medo. Não consegue fechar uma porta e abrir outra. Parece-me que está a passar por um processo de crescimento que a está a deixar isolada daqueles que se habituou a chamar de seus, que não estão a acompanhá-la. E isso é sempre difícil.

Ela é uma daquelas raras pessoas pelas quais tenho interesse como pessoa, atracção como mulher e carinho como amigo.

E isso só por si vale o suficiente para aceitar não o que é, mas aquilo que pode ser.

Gostava de ver o mundo e viver com claridade clara, todas as coisas vivas que há para viver.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

"See the World", by Gomez

A noite segue o dia

A noite segue o dia, enquanto me enches de paciência.
Em tempos fui um bravo a quem tu atravessaste.
Por mil vezes contei mentiras em pequenas linhas de pensamento, sobre aquilo que nós sentíamos.
Histórias de dormir, repetidas vezes sem conta, até as perguntas se tornarem claras e indistintas.
Deixa-me aqui à espera, bem perto, por seres o preço que pago, para à noite ter o teu reconhecimento.

Uma amostra do que está para vir

EPISÓDIO 11

Esta semana, corri com a Isabel cá de casa, depois de lhe ter explicado pela enésima vez, que não a queria voltar a ver. O que acontecera entre nós, passou-se numa altura em que as frustrações acumuladas, me levaram a procurar uma relação inofensiva. Quando a mesma evoluiu para o oposto, deixou de fazer sentido. Mesmo respeitando-a por fazer parte da minha história, já lá vão cinco anos. Esta tendência dela de regularmente voltar, para se por de novo a jeito, é um tipo de masoquismo, pelo qual tenho cada vez menos apreço.

Não a recebi bem. Não podia. E ela sabia disso. Aliás, ser maltratada, era uma componente essencial do seu ritual de sacrifício. Desconfio que acredite que a sua abnegação me iriam levar a reconsiderar, embora não consiga perceber onde vai ela buscar indícios de que tal seja possível de acontecer. Era uma visita tão inesperada como indesejada, e eu não lho escondi.

- Isabel, quantas vezes preciso de dizer, que não tenho qualquer interesse em estar contigo?

Ela foi uma das experiências mais desagradáveis que tive na vida, que não tenha envolvido hospitais. Tirando o mês que passámos em Donostia, logo a seguir a nos termos envolvido pela primeira vez, na arrecadação de casa de uma portuguesa que lá conhecemos, durante uma festa, nós nunca mais nos demos bem. Ela irritava-me, qualidade essa que nunca perdeu. Era exagerada, desequilibrada. E como se isso não bastasse, não via a incompatibilidade, como uma justificação para a ruptura.

Quando atingimos o limite do insustentável, pus fim à relação. A decisão, só a tornou mais insuportável. Começou a ligar-me a toda a hora, de tal modo, que acabei a mudar de número de telefone. Ela passou então a aparecer-me em casa, de modo imprevisto e a altas horas da noite. Justificava-se com o argumento que pensara em mim na cama com outra e não suportara a visão. Ameacei fazer queixa à policia, depois de um telefonema para os pais dela, não ter surtido qualquer efeito. O cúmulo foi atingido, irrompeu pelo restaurante, no qual estava a jantar com uma ex-namorada, para me encher de insultos e acusações. Se houve alguma vez que estive perto de bater numa mulher, foi essa. Não o fiz, porque o dono do restaurante me conhecia e conseguiu metê-la na rua, deixando-me com a vergonha de explicar, porque razão andava a ser perseguido. Durou quase 9 meses, esta coisa. Sensivelmente o dobro do tempo que estivemos juntos.

Pode não parecer muito, mas foi o suficiente para me cansar das birras que fazia, sempre que por alguma razão precisava mostrar a sua reprovação, coisa que, diga-se, era bastante frequente. Do que recordo dela, é o protótipo da mulher mimada e aborrecida, que voga os dias entre a melodrama e a enxaqueca, persuadindo pelo capricho e verbalizando pelo histerismo.
Os pouco desvairos sexuais a que se permitia, eram uns ocasionais broches em locais públicos, de preferência parques de estacionamento e casa de banho de centros comerciais. Ficava excitada sempre que ia às compras. E se eu a acompanhava, era para não perder esses escassos momentos. Porque fora eles, ela é daquele tipo de pessoas que passa aos lado da vida, enquanto faz grandiosos planos sobre como vivê-la. Senti-me intoxicado. Larguei-a de vez. E mesmo após a policia e as ameaças, ela continuou a aparecer. Deixou-se de perseguições, mas sempre que arranjava uma novo namorado, fazia questão de mo vir anunciar. Não me tenho cansado de lhe dizer, que se pode poupar ao trabalho, mas ela não é mulher para ouvir o que não quer. Rapidamente o transforma em provas da sua vitimização, como se o objectivo de todos os outros, fosse contrariá-la.

- Tens de perceber que a vida dos outros não gira em teu redor.

Escusado será dizer, que isso ela também não ouviu. Se há mulher que personifica o ouvido selectivo, é ela. E isso, deixem-me que esclareça, não é coisa que me atraía por ai alem.

Cada vez que me lembro...no princípio, foi o queridinho. Ai queridinho deixa que eu ponha, ai queridinho deixa que eu meto, deixa que eu faço. E o queridinho deixou. E quando deu por si, estava sentado à frente de dois comerciantes de hortaliça, que por sinal eram seus pais. Ambicionavam casá-la com o filho do sócio e fundir nessa união, a hereditariedade das couves.

- Com que então, quer namorar a minha filha...!

Quer dizer, querer, não queria, mas que estava ali sentado, estava. Tenho a dizer que se mais fosse preciso, o que nem era o caso, conhecer os pais dela, foi motivação suficiente para saber, que não queria aquela mulher. Uma vez, na escola, um dos padres tinha-me dito que as pessoas queriam-se claras e directas. Respondi-lhe que isso era só para aquelas que não conseguiam ser eufemísticas e complexas. Levei logo um estalo, para “não estar a armar-me em esperto”. Os pais dela, tinham o mesmo tipo de intolerância.

Foi por tudo isto, que a informei que precisávamos de falar.

- Sabes quando as maravilhas do amor, nos levam a ver nos defeitos do outro a sua beleza? – perguntei-lhe.
- Sim. – respondeu ela, deliciada.
- Contigo, nunca tive isso.

Não sei se a tentativa dela de usar os outros começou aí, ou se já vinha de trás. Sei que namorou com dois conhecidos meus. Foi para ma dizer que tinha começado a namorar com o terceiro, que me apareceu cá em casa, sem pré-aviso.

- Quantas vezes preciso de te dizer, que não estou minimamente interessado em saber com quem é que tu andas?!
- Não tens ciúmes?
- Se é para mos fazeres que estás com ele, bem o podes deixar que não tenho nenhuns.
- Não és capaz de amar! – queixou-se ela.
- Claro que sou; só não a ti! – respondi.

E mesmo depois de ter sido desagradável, tive de a empurrar para fora de casa, já que ela, por si, não achava que o meu comportamento fosse razão para tanto. É por este tipo de situações que às vezes acho, que devia comprar um cão.

Sábado Passado